domingo, 14 de março de 2021

O texto que eu não escrevi

Ano passado foi difícil.

Esse ano está pior.

As mazelas se acumulam, o cansaço se acumula, a alma dói. 

Muitas vidas estão se perdendo mundo afora, e aqui muitas mais. 

Ver a morte se aproximando, rondando, sorrateira, sutil, me despertou para a necessidade de viver, mas me sinto em transe, presa, e novamente trilhando um caminho pelo qual eu não queria mais passar.

Mas então eu olho pra mim com delicadeza, com carinho acolho meus sentimentos e minha realidade, e penso que esse caminho que tenho evitado é, na verdade, o único que eu gostaria de seguir. A única história que eu gostaria de viver.

Não sei quanto tempo mais nos resta, quanto tempo mais me resta. Não sei se ainda há tempo para errar, se há tempo para evitar, para esperar.

Escrevo agora, o que deveria ter escrito quando sua parte em mim morreu. Escrevo pra dizer que eu queria viver pra descobrir aqueles erros, defeitos, outras dores, as mesmas dores. E muitos mais amores, dentro do mesmo amor.


Julia Ferreira

Sós

Completamente tua,
Corro em pensamento ao teu encontro.
Adormeço com a lembrança do teu cheiro,
E em sonho nossas almas se encontram,
Trazendo alívio aos nossos corpos distantes. 

Acordada pela realidade,
Agonizo, lentamente, a dor da saudade que volta a me rondar.
O tormento da tua falta mais uma vez me atinge,
E lembrar já não é o bastante.
Sinto doer cada parte minha,
Sentindo, desejando, precisando do teu toque.

Mais uma vez nossos corpos se entregam, 
Depois de tanto tempo já se conhecem,
Depois de tanta ausência ainda se conhecem. 
Mais uma vez nossos corpos se completam.

Mais uma vez nos deixamos,
Nos deixamos levar pelo desejo, nos entregamos completamente.
Mais uma vez nos deixamos,
Nos deixamos e partimos, sós. 

Julia Ferreira

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Palavras ao léu


Hoje falamos sobre o tempo, sobre o tempo que passou, sobre o tempo que virá.
Sobre o tempo, afinal, e sobre não pensar no tempo, apenas esperar.
Falamos sobre amar e amor, sobre espera, perdas e vida. Falta de vida.
Eram tantos os caminhos que eu tinha para prosseguir, mas retorno ao caminho mais duro, insalubre. Escolha.
Hoje entendo, em parte, porque o hoje me fez em parte igual. Presa, atada, enrascada, e esses nós se apertam, os nós que nos fazem "nós", os nós não nos permitem sermos "nós".
Os pensamentos correm pela noite afora, e, sendo atacados pelo vento da madrugada, balançam entre o calor do teu abraço e o frio da tua ausência. As entranhas se apertam, numa angústia avassaladora, que me abate no leito de dores, onde as lembranças me envenenam lentamente.
Embriagada pelo amargo das palavras que não disse, adormeço. 
Metáforas pobres, rimas perdidas, palavras ao léu.

Julia Ferreira

#almapoetiza
#textos

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Pegadas

A passagem de um alguém na vida de outro alguém
Deixa marcas profundas
Como as pegadas marcadas pelos passos na areia fofa.
Mas cedo ou tarde a maré sobe, o vento sopra,
E as marcas se apagam,
E a areia vira novamente uma página em branco,
Pronta para receber uma nova história,
Uma nova poesia
Uma nova canção.

Julia Ferreira