sábado, 21 de setembro de 2013

Nós - J.G. de Araújo Jorge

O poema de hoje é indicação da minha amiga, Neusa Trindade.
Lindo demais, não sai de mim!
Deliciem-se:


Nós

Afinal o que sinto
é o sofrimento atroz
de muito tarde descobrir que nunca falaremos
em nós...

Eu, serei eu, tu, serás tu,
e eternamente assim
nem nunca me terás como queres que eu seja
nem serás como eu quero que sejas pra mim...

Muito tarde... muito tarde...
- depois que assim te quero, e preciso de ti
como os pulmões precisam de ar
ou os olhos de luz,
é que vou descobrir que se ficarmos juntos,
eu poderia te odiar, tu poderias me odiar!
- Quem diria, ao final, ao que o amor se reduz?!

Estraguei a tua vida e desgraçaste a minha
e fomos acordar, os dois, tarde demais...
Agora, eu sigo só,
tu, seguirás sozinha,
eu, fugindo; covarde!... a este amor que me espinha!
tu, querendo, - medrosa!... inutilmente a paz!

E o que é estranho afinal, é que nos amamos,
e sentimos no entanto que nos separamos,
cada um com a sua sombra dolorosa
a sós...
- conformados, na dor cruel, nos convencemos,
de que nunca na vida, eu e tu... seremos
nós...

JG de Araujo Jorge extraído do livro Eterno Motivo - Prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras, 1943


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